quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Histórias de taxistas #2 - O adultério



Era  uma madrugada de primavera. O ano era  2003.

Tudo ia bem até que uma chamada da  rádio táxi com um requisito estranho aconteceu: “O Carro tem que ter películas  nos vidros no Ponto “X”.”

Como eu estava no ponto “X” e  preenchia os requisitos, ou seja, os vidros “peliculados”, escurecidos, me  identifiquei e recebi o endereço para ir buscar o(a)  cliente.

Cheguei no local, parei e esperei.  Dois minutos depois, no máximo, uma mulher de aparência bonita entrou rápido no  táxi me desejando boa noite e perguntando se havia a possibilidade de alguém  enxergá-la dentro do carro. Expliquei que era difícil de isso acontecer e já  perguntei qual era o destino.

Imaginava que seria mais um caso  simples e comum – acreditem, é mais comum do que vocês imaginam - de adultério.  Quando ela respondeu que queria ir até o Motel “Y”, minha suspeita se  confirmou.

Dirigi até o motel sem trocar muitas  palavras, mas percebi que a mulher estava um pouco nervosa. Não quis entrar em  detalhes, muito menos perguntar o que a deixava com aquele semblante nervoso.  Fiz o que me cabia e levei-a até o destino  escolhido.

Sozinha dentro do táxi, ela escolheu  o quarto mais barato, pagou por antecipação, como é de praxe dos motéis em Porto  Alegre quando a pessoa vai de táxi, e já dentro do pátio do motel, pediu que eu  andasse devagar.

Sem questionar, fiz o que ela pedia.  Logo em seguida, pediu para que eu observasse os carros, pois ela estava  procurando um determinado carro azul nas garagens do motel. O referido motel  possuía portas de garagem que não cobriam a traseira inteira do carro, deixando  a mostra uma parte, o que permitia que se visualizasse facilmente a cor e até a  placa dos veículos.

Não demorou muito achei um carro  azul. Ela pediu que parasse o táxi ali e foi o que eu  fiz.

Já não entendia mais nada, pois ela  havia inclusive pago um quarto, que nem perto de onde paramos ficava. Mas tudo  bem, como meu trabalho não é questionar, fiz o que me foi  pedido.

Ela disse: “Só um pouquinho moço,  quero ver uma coisa.” e desceu do táxi. Foi até a porta da garagem, olhou por  baixo, viu o carro e possivelmente a placa do mesmo e  voltou.

“Quanto te devo moço?” indagou ela.  Dei o valor, ela me pagou e antes de descer em definitivo disse: “O sr. deve  estar achando que eu sou louca e talvez eu seja mesmo. Sabe o que eu vim fazer  aqui? Vim pegar o meu marido que ta com a amante ali dentro. O desgraçado é tão  burro, que ainda trás a amante no mesmo motel que me trás de vez em quando. Ele  vai ver só o que eu tenho pra ele...”

Confesso que apesar do medo do que  aquela mulher iria fazer, deu vontade de ficar ali pra ver e ouvir o que iria  acontecer. Não fiquei. Não quis ser testemunha de um possível crime passional ou  algo que o valha.
A verdade é que juro que até hoje  tenho curiosidade em saber o que ocorreu naquele quarto de motel. Acho que um  crime não, pois sairia nos jornais, certo. Mas gostaria sim de saber o desfecho  daquele possível flagrante de adultério.

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