sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Mãe de menina em fotos erotizadas acha tudo um grande exagero


Campanha com crianças 'erotizadas' gera polêmica em redes sociais
Campanha com crianças ‘erotizadas’ gera polêmica em redes sociais
A mãe da criança de três anos que aparece em uma campanha publicitária em fotos erotizadas afirma estar surpresa com a repercussão do caso. “Fizeram uma tempestade em copo d’água. Minha filha não merecia passar por isso”, afirma ela, que pediu para não ser identificada para preservar a filha.
A mãe da criança afirma que acompanhou as fotos da filha e que não viu erotização no resultado. “Levei roupas dela para o ensaio, mas sugeriram que ela fizesse só de calcinha para dar um ar mais infantil às fotos. Eu concordei”, diz. Segundo a mãe, a criança que posou para campanha não faz trabalhos como modelo e elas não receberam dinheiro. “Aceitei porque sou amiga de pessoas da empresa. É a primeira vez que minha filha faz fotos para publicidade. Nem gosto disso. Antes disso, já tinha recebido várias convites. Aceitei mais por uma brincadeira”, afirma.
Para a mulher, nem ela, como mãe, nem a empresa de bolsas e sapatos devem ser culpadas pelas fotos. “A agência que fez e estudou é que deveria ter noção que uma foto passaria ptudo isso. Nem eu, nem o dono temos noção disso”, conclui. Durante a tarde desta quarta-feira (16), o G1 tentou entrar em contato com a agência responsável pela campanha, mas as ligações não foram atendidas.
Conar
O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) afirmou que, até a segunda-feira (14), recebeu 70 notificações sobre a campanha da marca cearense, aceitou as denúncias e abriu um processo contra o anunciante. O órgão recebe denúncias de consumidores, autoridades e anunciantes, além de regulamentar a prática publicitária com base no Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária.
ECA
Campanha gerou polêmica por usar imagem de menina em poses consideradas sensuais
Empresa responsável pediu que parem de reproduzir a imagem e assim diminuir os “efeitos negativos causados pela má interpretação da campanha”
Segundo a coordenadora do Grupo de Pesquisa da Relação Infância, Juventude e Mídia (Grim), da Universidade Federal do Ceará (UFC), Inês Vitorino, a campanha desrepeita não só o código da publicidade. “É uma campanha extremamente de mau gosto e desrespeitosa em relação às crianças. Para começar, a criança não é o foco da campanha. A marca é para o consumo de adultos e coloca a criança extremamente erotizada, em uma situação absolutamente desnecessária. Além disso, fere o ECA porque coloca a criança em situação vexatória, de calcinha, se maquiando, dentro de uma sociedade com tantos casos de pedofilia e abuso sexual”, afirma.
Diante do caso, o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca) propôs na terça-feira (15) ao Ministério Público uma ação ação coletiva para que futuras campanhas envolvendo crianças e adolescentes não adotem uma postura similar. Segundo a entidade, mesmo que campanha da Courofino tenha sido retirada de circulação, a empresa pode ser penalizada com multa ou ter de assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).
A argumentação jurídica do Cedeca se baseia nos artigos 17 e 18 do ECA. O artigo 17 fala do respeito à inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.
O artigo 18 do ECA traz que é “dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor”.
“Má interpretação”
Em nota, a marca Courofino informou que as peças e o banner publicitário divulgados na página oficial da empresa em uma rede social “buscou homenagear uma data tão importante no cenário nacional” e que houve uma “interpretação distorcida da real intenção da empresa” que era de mostrar a brincadeira de uma criança com os pertences da mãe.
A empresa também afirmou que não teve a intenção de erotizar a infância e informou que já retirou o material publicitário de circulação. A marca ainda pediu aos usuários das redes sociais que não compartilhe a imagem ou que excluam das páginas para diminuir os “efeitos negativos causados pela má interpretação da campanha”.
De acordo com o Conar, mesmo que a marca retire as peças, o processo continua tramitando, pois poderá referenciar campanhas futuras. Segundo o conselho, o voto deve ser dado até esta quarta-feira (16). Caso não tenha uma medida liminar, a campanha pode ser utilizada até o fim do julgamento do processo, que dura de 30 a 40 dias.
Ainda de acordo com o Conar, é importante que as empresas reconheçam e atendam a regulamentação do conselho. A retirada é de responsabilidade do anunciante, que é informado sobre a existência do processo e pode participar da sessão que julgará o processo, apresentando, inclusive, defesa.

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