quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Na boate Kiss em Santa Maria, 90% dos mortos no incêndio morreram asfixiados

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A médica legista Maria Ângela Zuccheto, coordenadora regional de perícia da área de Santa Maria, afirmou nesta segunda-feira (28) acreditar que 90% dos mortos no incêndio na boate Kiss tiveram asfixia mecânica como causa da morte. A tragédia na cidade na região central doRio Grande do Sul ocorreu na madrugada do domingo (27), deixando 231 mortos e dezenas de feridos.
Segundo a perita, a rapidez com que o fogo se alastrou e a quantidade de fumaça por ele produzida a levam a crer que “a maioria, cerca de 90%, morreu asfixiada”. Com o aumento de monóxido de carbono no ar, o gás tóxico toma o lugar do oxigênio no sangue. Geralmente as vítimas sentem sonolência e tontura antes de desmaiarem. Quando o monóxido toma conta do sangue, o corpo não consegue mais fazer as trocas gasosas necessárias para o suporte da vida e morre, diz ela.
Segundo a perita, para corroborar a hipótese sangue cardíaco das vítimas foi coletado e enviado para o Laboratório do Instituto Geral de Perícias (IGP), em Porto Alegre, que vai analisar a quantidade de monóxido de carbono. Devido à quantidade de vítimas, não há data para a conclusão dos laudos.
A perita afirma que o primeiro contato com os corpos foi no ginásio esportivo da cidade, onde ocorreu o velório coletivo. Por isso, diz não saber a disposição que dos cadáveres quando o incêndio foi controlado.
A médica legista diz ainda que os 10% restantes podem ter sofrido outros tipos de ferimentos, como queimaduras das vias aéreas. “Aquela espuma usada no revestimento acústico tem diversos elementos maléficos para a saúde.” A queimadura, em si, vitimou apenas duas pessoas, de acordo com o levantamento prévio. A perícia, porém, deve determinar se as vítimas com queimaduras de terceiro grau morreram de outras causas além do fogo em si.

Depoimento

Em depoimento à Polícia Civil, o dono da boate Kiss, Elissandro Sphor, disse que sabia que o alvará de funcionamento estava vencido, mas que já havia pedido a renovação. Ele também culpou a banda Gurizada Fandangueira pelo início do incêndio, segundo o delegado Sandro Meinerz.
O dono da boate Kiss também negou tenha ordenado aos seguranças que impedissem a saída dos jovens da festa na hora que o fogo começou. Sphor, que estava na boate quando a tragédia ocorreu, negou ainda ter retirado do local o computador que armazenava as imagens gravadas pelas câmeras de segurança da boate. O gravador sumiu do local, segundo Meinerz, responsável pelo caso.

Incêndio

O incêndio começou por volta das 2h30 de domingo, durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que utilizou sinalizadores para uma espécie de show pirotécnico. Segundo relatos de testemunhas, faíscas de um equipamento conhecido como “sputnik” atingiram a espuma do isolamento acústico, no teto da boate, dando início ao fogo, que se espalhou pelo estabelecimento em poucos minutos.
O incêndio provocou pânico e muitas pessoas não conseguiram acessar a saída de emergência. A festa “Agromerados” reunia estudantes da Universidade Federal de Santa Maria, dos cursos de pedagogia, agronomia, medicina veterinária, zootecnia e dois cursos técnicos.
Pelo menos 101 das vítimas identificadas eram estudantes da Universidade Federal de Santa Maria, segundo informou a instituição em sua página na internet.
O comandante do Corpo de Bombeiros da região central do Rio Grande do Sul, tenente-coronel Moisés da Silva Fuch, disse que o alvará de funcionamento da boate estava vencido desde agosto do ano passado.

“Fatalidade”

Por meio dos seus advogados, a boate Kiss se pronunciou sobre a tragédia. A direção do estabelecimento classificou o ocorrido como uma “fatalidade”, afirmou que a empresa está em “situação regular” e à disposição das autoridades. A nota foi emitida pelo grupo de advogados associados Kümmel & Kümmel, que representa os proprietários da boate.

Público

O número de total de pessoas que estavam no interior da boate Kiss no momento em que o incêndio começou ainda é desconhecido. Segundo informações da própria casa noturna, a capacidade máxima é para mil clientes.
De acordo com o delegado Sandro Meinerz, que é responsável pela perícia, informações coletadas pelas equipes de investigação dão conta de que o público na hora da tragédia era de aproximadamente mil pessoas. O Corpo de Bombeiros, no entanto, estima que o número era maior, perto de 1,5 mil.
Estudantes que sobreviveram à tragédia relataram que, inicialmente, seguranças da boate tentaram impedir a saída dos clientes, mas que logo perceberam a fumaça e liberaram a passagem.
O capitão da Brigada Militar Edi Paulo Garcia disse que a maioria das vítimas tentou escapar pelo banheiro do estabelecimento e acabou morrendo. “Tirei mais de 180 pessoas dos banheiros. Eles estavam tentando fugir”, disse.

Resgate

Muitas pessoas que conseguiram sair da boate ajudaram a socorrer as vítimas. “A gente puxava as pessoas pelo cabelo, pela roupa, muita gente saía só de calcinha e cueca, muitas sem camiseta, talvez para se proteger da fumaça”, disse o jovem Murilo de Toledo Tiecher.

Passo a passo da tragédia em Santa Maria(RS)

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