Valmir Cabrera está fazendo hora-extra nestes dias em Santa Maria (RS), mas não poderia ser diferente. Ele é coveiro do principal cemitério da cidade que foi palco do incêndio em uma boate que matou 235 pessoas, a maioria jovem.
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Das dezenas de enterros que realizou desde domingo (27), os que mais o emocionaram foram dos irmãos mortos. Na segunda-feira (28), sepultou Marcelo e Pedro Salas, de 20 e 17 anos. Depois, foi a vez de cimentar o jazigo dos irmãos Gustavo e Deives Gonçalves, de 21 e 33 anos. O primeiro ainda foi hospitalizado, mas após três noites internados morreu.
"A morte acaba virando uma rotina na nossa profissão, mas é muito triste ver o sofrimento de uma mãe que perdeu dois filhos. É comovente", afirma Cabrera.
O coveiro faz jornada dupla, mas lembra que sem a ajuda dos voluntários do exército não seria possível enterrar mais de 40 jovens em um só dia.
Com o calor beirando os 40ºC, os enterros são ainda mais sofridos. Voluntários levam água principalmente para os familiares e para os coveiros, que tem de erguer muros nos jazigos diante da mídia nacional e internacional.
O mais recente capítulo das tristezas de Santa Maria foi o drama de Eliane Gonçalves, que perdeu dois de seus quatro filhos na boate Kiss. "Eu perdi o marido faz dois anos. Agora são meus filhos. É muita dor", disse ela antes de desatar a chorar diante dos microfones dos repórteres presentes na cidade gaúcha.
Cabrera prevê mais trabalho para os próximos dias. "Agora estão vindo os que estavam internados."
Mais de 100 sobreviventes estão hospitalizados em UTIs (Unidades de Tratamento Intensivo) de Santa Maria e da Grande Porto Alegre.
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