terça-feira, 28 de outubro de 2014

Pastor faz sucesso na internet com discursos humorados sobre comportamento dos fiéis

'Aos 13 anos, não sabia se era hétero e queria testar', diz Brendon Urie.
Após enfrentar grupo cristão homofóbico nos EUA, banda toca no Brasil.

"O amor não é uma escolha", canta Brendon Urie, do Panic! At the Disco, em "Girls/Girls/Boys". Letras como esta, sobre bissexualidade, renderam briga com a ig
reja cristã extremista Westboro, nos EUA. Fiéis homofóbicos convocaram protesto em julho. O cantor foi esperto: prometeu doar US$ 20 a uma organização LGBT a cada fundamentalista que aparecesse. O protesto ficou vazio. "Espero que a banda leve luz ao tema da aceitação", diz, em entrevista ao G1, antes de shows no Brasil, em outubro, em Belo Horizonte (18) e Brasília (19), no festival Circuito Banco do Brasil.

"Girls/girls/boys" rendeu perguntas sobre sexualidade. Em julho, Brandon disse ao site PrideSource que é hétero, mas já teve experiências homossexuais. "Eu queria entender quem era", explica ao G1. "Não fiquei obcecado por isso, sabe? Tenho amigos gays e hétero, não importa."

Brendon se importa mais com a primeira turnê como único membro original da banda. Em 2009, Ryan Ross e Jon Walker saíram para formar o Young Veins. Em 2013, o baterista Spencer Smith tirou férias para se tratar de dependência química. Brendon já pensa em um novo disco. Será um trabalho solo ou do Panic! At the Disco? "Ainda não decidi...".

G1 - Na turnê você canta 'This is gospel', do disco novo, que escreveu sobre Spencer. Como é tocar essa sem ele ao seu lado?
Brendon Urie - É tão difícil quanto foi escrever. Quando fiz a música, estava sozinho no meu quarto, e não tinha certeza se deveria mostrar para alguém. É muito pessoal, sobre nossa amizade. Então eu mostrei para pessoas mais íntimas, meu empresário, e todos amaram. Isso me fez recuperar a confiança em compartilhar e ser mais honesto. Sempre que toco é um momento especial. Quando os fãs cantam de volta para mim, é lindo.

G1 - O que você pensou quando viu que ia haver um protesto da Westboro Church e porque decidiu reagir daquela forma?
Brendon Urie - Eles são engraçados. São como crianças pequenas. Você os deixa fazer birra, ficar esbravejando entre eles, sendo bundões. Mas não sou um cara negativo. Sou o cara que ri dessas coisas. Queria que eles soubessem que não podem me provocar assim. Se eles quiserem ir ao show, tudo bem, vamos continuar mesmo jeito. Vamos defender as causas em que sempre acreditamos, e eles não podem mudar esse fato.

G1 - Você é de família mórmon, mas abandonou a religião. O que você gostaria de passar aos fãs em relação à intolerância religiosa?
Brendon Urie - Toda intolerância me entristece, não só religiosa. Deixe que as pessoas façam o que querem. Se não machucam ninguém, como pode ser ruim? Aprendemos com a diversidade. Não quero calar nenhuma religião, quero aprender com elas. Gosto de fazer perguntas, e muitas religiões têm um problema com isso. Por isso saí da igreja mórmon. Mas minha família toda ainda é muito religiosa. Acho ótimo que ainda nos amamos e nos respeitamos, é um bom exemplo de como o mundo pode ser, tolerante a amoroso.

G1 - O protesto por homofobia tem a ver com o fato de que você escreveu a música “Girls/girls/boys”, com o verso 'o amor não é uma escolha'. Por que fez essa música?
Brendon Urie - Esse verso resume mesmo toda a música. Eu acredito nisso. Não acho que garotos com 13 ou 14 anos, sendo estranhos como são, já provavelmente sofrendo bullying, escolheriam apanhar mais ainda. Não é uma escolha. Existem pessoas gays e hétero, você não vai controlar isso. É maravilhoso aceitar as pessoas como elas são.

G1 - Em entrevista recente você falou de experiências homossexuais. Por que falar sobre isso agora?
Brendon Urie - Decidi falar pois começaram a perguntar, por causa de “Girls/girls/boys”. Sempre fomos uma banda aberta e aceitamos todas os aspectos da vida. Para mim, nunca é problema ser honesto. Se me perguntam se tive uma experiência gay, digo que sim. Quando eu tinha 13, 14 anos, eu não sabia se era gay ou hétero. Sentia muitas emoções, muitos hormônios, estava com tesão (risos). Eu queria entender quem era e testar algumas coisas para dizer "isso não é para mim". Não significa que eu fiquei obcecado por isso, sabe? Tenho amigos gays e hétero, não importa. Espero que a banda leve uma luz a tema da aceitação.

G1 - No show há poucas do álbum 'Pretty. Odd' (2008), geralmente só 'Nine in the afternoon'. Este disco já mostrava uma banda dividida? Você gosta menos dele hoje?
Brendon Urie - Não. Tenho orgulho deste disco. Assim como cada um dos discos do Panic! At the Disco. É o mais perto que cheguei de ter filhos. Mas as músicas do segundo são mais lentas, experimentais. Acho que é melhor para ouvir no fone de ouvido, em um quarto escuro, fumando maconha. Mas adoro tocar “Nine in the afternoon”, é uma das minhas preferidas.

G1 - Você acha que ter sido ligado ao emo, uma onda que acabou sumindo, foi ruim para a história da banda?
Brendon Urie - Foi ótimo. Adoro ser ligado a todos os gêneros. Nunca nos considerei emo, mas muitos garotos sim, pois nos ligavam ao Fall Out Boy. Isso nos deixou mostrar o que podíamos fazer, que tipo de banda éramos. Ser rotulado de qualquer coisa - emo, rock, pop, alternativo - é legal, pois mostra que as pessoas ainda estão te dando atenção.

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